Naturalmente, a imagem de Deus como ser isento de ira e integralmente tomado pelo amor é apenas mais uma imagem do Inefável, mais uma representação, embora a mais coerente com a mensagem evangélica e com a sensibilidade do nosso tempo. Portanto, ao nos referirmos, como frequentemente acontece, a um outro Deus possível, estamos nos referindo a uma outra representação de Deus possível.
Carl Gustav Jung, comentando sobre as mutações nas representações de Deus ao longo da história, afirma:
O termo Deus, por exemplo, expressa uma imagem ou um conceito verbal que sofreu mudanças ao longo de sua história. Em tal caso não temos possibilidade alguma de demostrar, com a mínima parcela de certeza que seja - a não ser a da fé - se tais mudanças se referem apenas às imagens e aos conceitos, ou se atingem o próprio inefável (...) Mas a única certeza de que dispõe nossa inteligência é a de que trabalha com imagens, representações que dependem da fantasia humana e de seus condicionamentos tanto em relação ao espaço como em relação ao tempo; por isso mesmo, sofreram muitas modificações ao longo de sua história secular. (JUNG, Carl G. Resposta a Jó)
Não há dúvida de que na origem destas imagens se acha algo que transcende a consciência e não somente impede que os enunciados variem simplesmente, de maneira ilimitada e caótica, como também mostrando que eles estão relacionados com uns poucos princípios ou arquétipos. (JUNG, Carl G. Resposta a Jó)"Porque eis que o Reino de Deus está dentro de vós", ensina o Mestre de Nazaré. Os símbolos, repita-se, são apenas meios convenientes que permitem a salvação da nossa alma do sono profundo em que está mergulhada:
Com efeito, o sentido de que se reveste a imagem bíblica da Queda é precisamente a passagem da supraconsciência para o estado de consciência. A constrição da consciência, à qual devemos o fato de não vermos a fonte da força universal, mas, tão somente, as formas fenômenicas que ela reflete, transforma a supraconsciência em inconsciência e, no mesmo instante, precisamente ao fazê-lo, cria o mundo. A redenção consiste em retornar a supraconsciência e, por intermédio desse retorno, na dissolução do mundo. (CAMPBELL, Joseph. O Herói de Mil Faces)No nosso relacionamento com o Sagrado resta-nos apenas os símbolos que em sua universalidade apontam para uma Verdade única e imutável, embora manifestada em múltiplas e variáveis formas: "A Verdade é uma só; os sábios se referem a ela por muitos nomes", como nos ensina a sabedoria dos Vedas.
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3 comentários:
Meu filho, com toda permissão devida, essa "água" que estas bebendo é contagiante. É antídoto puro contra religião. Li em algum lugar a frase. "mais cristianismo e menos religião". Esses caras que estás lendo clareia a vista.
Tenho um cafezinho quente pra você, passe lá em casa. Um abraço
Alysson,
Digna de nota é a sua audácia em dialogar com diferentes autores, de diferentes ciências sobre um mesmo assunto, tão complexo, como os símbolos relacionados ao fenômeno religioso. Parabéns!
Que seja dito, no entanto, que cada autor tem sua própria hermenêutica, fruto de suas decisões existenciais. Você, inclusive, tem a sua, consciente ou inconscientemente, como todos nós temos.
Um forte abraço.
Caro Francisco,
Estes caras são mesmo inebriantes.
Abs.
Felipe,
Sem o mínimo rigor metodológico, não é mesmo?! São apenas divagações que precisam ser perdoadas. =)
Um forte abraço.
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