quarta-feira, novembro 21, 2007

Resistência poética

Hoje vi duas mulheres negras resistindo. Municiadas com palavras calmamente tecidas com o corpo, com o útero. Palavras rijas, nutridas a séculos por um líquido opulento de origem ignorada. Uma cantava, a outra declamava: as letras se derramavam, afogando os incautos em um mar de delícias e dores, em águas de dores deliciosas.

Exaltavam a tinta noturna que as tingiu, a que chamamos suja. Exaltavam seus crespos cabelos, a que chamamos ruins, a que destruímos com nossas palavras tiranas.

Divisei ali uma luta de palavras: sem sangue, sem uma gota sequer de sangue, aquelas duas mulheres resistiram, reduzindo a pó nossos seculares discursos.

Eu, homem e branco, fiquei afogado.

* * * *

4 comentários:

david santos disse...

SOMOS OU NÃO SOMOS?

Os políticos e os juízes já estão perdidos,
Por incúria, desonestidade e falta de dignidade,
Mas o caso de Flávia só se perde,
Se entre nós, os honestos, não houver solidariedade

Anônimo disse...

Estranha esse sentimento que causa o preconceito racial. Se ninguém tivesse me falado dele, eu nunca o teria sentido.

MamaNunes disse...

Minha alma humana é dautonica... so distingue gentes de gentes umas e outras...diferentes?
Mano essa canção é linda!
bjk

Alysson Amorim disse...

Amiga,

Só lamento que todos os senhores que dominaram as rédeas deste país sempre se valeram do seu discurso, mas para uma finalidade execrável - que não é o seu caso, estou certo: usaram-no para negar o racismo, afirmando uma suposta democracia racial que nunca existiu. Afirmá-la foi e continua sendo uma ótima estratégia, bastante tupiniquim, diga-se, para manter o racismo.

Não é necessário combater uma doença que, afirmam, não existe senão na cabeça de ativistas do movimento negro.

Realmente maravilhosa essa música: aliás, U2 é muito mais cristã que qualquer banda assumidamente cristã que conheço.

Beijos