segunda-feira, novembro 05, 2007

Carícias excessivas

"O menino continuava a abraçá-la. E Baleia encolhia-se para não magoá-lo, sofria a carícia excessiva." (sobre o afago do menino mais velho na cachorra Baleia, em Vidas Secas do alagoano Graciliano Ramos)

Lendo Graciliano, um lampejo: Deus não seria aquele que vez ou outra nos faz sofrer com suas carícias excessivas?

Suspeito que o Jó deva ter algo a dizer.

* * * *


4 comentários:

Felipe Fanuel disse...

Caríssimo,

Essas suas teologias pós-leituras-literárias são de grande preciosidade. Você descobre a fé na vida das pessoas observada. Afinal, a literatura é o único lugar onde as pessoas podem ser observadas, do jeito que são. Ao ler um romance, lemos vidas. Só na literatura a vida é vida mesmo. Aqui, nesse nosso mundo — se é que isso é um mundo —, a gente vive mesmo uma ficção.

Forte abraço.

Janete Cardoso disse...

Baleia suportava as carícias, mesmo sem gostar delas...
Jó também aceitou todo o sofrimento, sem se voltar contra Deus.
Interessante seu ponto de vista.
beijo

Tamara Queiroz disse...

Lindo (e triste...)!

Isso me lembrou um tempo em que eu acreditava que valia à pena.

Um abraço

Anônimo disse...

Oi Alysson,
Isto me faz pensar que o verbo grego proskuneo, que vem da atitude canina de pular no seu dono e lambê-lo festivamente, o qual é traduzido como adoração, apresenta só um lado da moeda: um só lado da adoração.
A Baleia com a ajuda de Graciliano Ramos nos mostra uma outra faceta bem menos festiva desse relacionamento.