A fé vem pelo ouvir. Em tempos marcados por demasiada retórica o verbo ouvir soa como um delicado desafio. Andamos armados até os dentes com um sem número de idéias e palavras que disparamos sem uma nesga de critério. Ouvir exige um desarmar-se e uma atitude de acolhimento, posturas incompatíveis com nosso modus vivendi marcadamente competitivo. Acredito que boa parte da crise da fé na contemporaneidade decorre desta crise do ouvir.
Quanto a mim, posso afirmar: não acredito em Deus como acredito no teorema de Pitágoras. Não acredito no Deus moral que Nietzsche encontrou decomposto. Com Gianni Vattimo, acredito que acredito em Deus, acredito por ouvir falar:
Minha fé em Deus nasceu quando ainda criança minha mãe carregava no colo um menino com problemas respiratórios, afiançando sempre entre carinhos que em algum lugar havia um Ser bondoso que não nos deixaria jamais.
Acredito no Deus narrado em fabulosas histórias e estórias que povoam os Livros Sagrados, no Deus poetizado por seres míticos que beberam o elixir da imortalidade e demoram-se em honrar-me com sua sempiterna amizade.
Tento ouvir Deus na cachoeira que deságua, no vento que crispa minha face. Acreditem: até o burburinho da cidade tem algo a contar sobre o Deus em quem deposito minha precária fé.
Precária fé. Mas certo é que o pouco que acredito devo ao (muito pouco) que ouço.
* * * *
Quanto a mim, posso afirmar: não acredito em Deus como acredito no teorema de Pitágoras. Não acredito no Deus moral que Nietzsche encontrou decomposto. Com Gianni Vattimo, acredito que acredito em Deus, acredito por ouvir falar:
Não cremos em um tal Deus no sentido “forte” da palavra, como se sua realidade tivesse sido demonstrada melhor do que aquelas das coisas sensíveis ou dos objetos da física e da matemática. O Fides ex audito, um ditado que se origina no Novo Testamento, quer dizer também que no Deus da revelação se crê porque “se ouviu falar” e, portanto, com toda margem de incerteza que está ligada a todas as coisas que consideramos verdadeiras porque foram ditas por alguém que confiamos, confiança esta porém condicionada por um sentimento de amizade, de amor ou de respeito. E, como se sabe, frequentemente o amor é cego e não vê as coisas tal como elas são na sua verdade “objetiva”. (em Depois da cristandade: por um cristianismo não religioso)
Minha fé em Deus nasceu quando ainda criança minha mãe carregava no colo um menino com problemas respiratórios, afiançando sempre entre carinhos que em algum lugar havia um Ser bondoso que não nos deixaria jamais.
Acredito no Deus narrado em fabulosas histórias e estórias que povoam os Livros Sagrados, no Deus poetizado por seres míticos que beberam o elixir da imortalidade e demoram-se em honrar-me com sua sempiterna amizade.
Tento ouvir Deus na cachoeira que deságua, no vento que crispa minha face. Acreditem: até o burburinho da cidade tem algo a contar sobre o Deus em quem deposito minha precária fé.
Precária fé. Mas certo é que o pouco que acredito devo ao (muito pouco) que ouço.
* * * *
6 comentários:
Querido Alysson,
É muito bom saber que os nossos tímpanos têm uma função especial na nossa relação com o sagrado. Parece que ouvir, no entanto, está para além do captar sons nas orelhas. Afinal, fé é um trem esquisito mesmo. Toma-nos de um jeito que não sabemos entender de onde vem tamanha sede pelo infinito.
A sua auto-confissão de fé revela que ninguém nasce como uma "tábula rasa". Pelo contrário, você já estava possuído por algo que superava suas limitações físicas. Cara, essa história de vida mexe conosco.
Olha, se você observar bem, a gente bebe esse elixir da imortalidade cada vez que precisamos ser levados a uma dimensão para além desta. Fé é justamente mandar para a goela adentro essa bebida mágica!
Forte abraço.
P.S.: Vattimo está mais preocupado com o Deus no sentido "fraco" da palavra. Para falar português, ele está preocupado com o Deus da fé idiossincrática.
Alysson, brother,
A fé vem pelo ouvir. E ouvir a Palavra. No nosso caso ler o Evangelho. E isso revela porque vivemos em tempos de parca fé. O Evangelho é apenas auto-ajuda, manual de prosperidade, livro de museus teo-ógicos.
Deus nos ajudes,
Paz,
Alysson,
graça, paz e bem!
Há deuses que precisariam ser silenciados ou, ao menos, ignorados. Suas falas se ouvidas têm a capacidade de aprisionar, oprimir e assassinar pessoas sedentas de Vida.
Sim... ouçamos o Deus da Vida nas coisas simples do cotidiano e que a tão Boa Notícia nos contagie e nos motive a compartilhar o Bem recebido.
Felicidades!
A fé deve ser a menor palavra no arcabouço do evangelho e de toda a Palavra de Deus, mas continua causando dificuldades e grandes debates sobre seu significado. Sem dúvida, o desvio de rota adotado pela pregação, nos últimos tempos, tem enfraquecido a fé como um todo.
Não é à toa que as "maiores confusões" no mundo se deu e se dá por não ouvir.
B-joletas, queridíssimo Alysson
A fé vem pelo ouvir, mas se não houver experiência ela não se instala no coração!
Tive dois momentos,onde a medicina se mostrou impotente. Deus me curou. Talvez se eu não tivesse a experiência da primeira, ainda na infância, não teria fé suficiênte para receber a segunda, já adulta.
beijos
Postar um comentário