Deus descia copiosamente, anunciando com suas potentes cordas vocais a visita repentina ao reino dos homens. Macacos se envolviam nos galhos, olhos arregalados por um medo instintivo. Lagartas, estas buscavam refúgio nas folhas secas. Cessava o cantar colorido dos pássaros.
A voz de Tupã e seu fluxo torrencial reduziam ao nada o choro da criança. Não há berro audível, não há lágrima humana visível quando Tupã se manifesta em seu poder e força.
Eis ali Tupã, sentado em uma pedra cravada na floresta. A água escorrendo com violência por sua face reluzente. Na imensa pedra, Tupã se delicia com a doçura e acidez de um abacaxi. Tupã é dúbio: temível e fascinante, ácido e doce. Assusta a criança e enrijece a raiz, libera a seiva, dilata os frutos. Fulmina a ópera dos pássaros e rejuvenesce os rios.
A voz de Tupã e seu fluxo torrencial reduziam ao nada o choro da criança. Não há berro audível, não há lágrima humana visível quando Tupã se manifesta em seu poder e força.
Eis ali Tupã, sentado em uma pedra cravada na floresta. A água escorrendo com violência por sua face reluzente. Na imensa pedra, Tupã se delicia com a doçura e acidez de um abacaxi. Tupã é dúbio: temível e fascinante, ácido e doce. Assusta a criança e enrijece a raiz, libera a seiva, dilata os frutos. Fulmina a ópera dos pássaros e rejuvenesce os rios.
Logo os sábios decifraram a misteriosa presença: Tupã veio trazer proteção e a paz ao seu povo.
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Tupã compõe o panteão da Mitologia Tupi-Guarani. Na língua tupi significa "trovão". Luís da Câmara Cascudo considera o Tupã-divindade uma invenção da catequese jesuíta. Aquele folclorista afirma que Tupã já existia, não como divindade, mas como conotativo para o som do trovão. O escritor Osvaldo Orico, por sua vez, informa que os tupis tinham uma noção da existência de uma Força superior, cuja voz se fazia ouvir na tempestade (trovão). José Severino Croatto lembra que os jesuítas, para facilitar a catequese, não demoraram em transformar o deus Tupã em uma divindade Suprema.
Escrevi o texto acima com leve inspiração no Salmo 29, que retrata uma das tantas faces de Iaveh, ali apresentado como o Deus da tempestade.
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7 comentários:
Você escreveu esse texto Graças a Tupã.
Bunito!!! Gostei!!!
Valeu a visita.
Linda foto, tristes trópicos.
Ah, linda música, também.
Interessante a astúcia dos Jesuítas!
Beijo
Isso que eu chamo de teologia sincrética! Aqui a gente pode iniciar um diálogo de diferentes vozes religiosas.
Curiosamente, linguistas cristãos têm substituido, em alguns trechos de impressões mais recentes da bíblia, o "Tupã" por "Nhandejari". Nhandejari seria uma divindade mais amorosa, humilde e perdoadora, dentro da cultura indígenta guarani. A bíblia é chamada de "Nhadejari Nehé" - Palavra de Deus.
Pelo menos foi o que me contou o Zebedeu, um índio Cauiá lá no MS.
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