“Viver é muito perigoso... Querer o bem com demais força, de incerto jeito, pode já estar sendo se querendo o mal, por principiar.”
Guimarães Rosa (Grande Sertão: Veredas)
Guimarães Rosa (Grande Sertão: Veredas)
Tenha cuidado, muito cuidado. Mas não descuide do principal: o supremo cuidado nunca é o bastante para evitar uma tragédia. Não há prudência, não há habilidade de guerreiro que desafie a força cortante da espada que portamos; não há encantos mágicos que desafie a virulência da serpente que trazemos no ombro. Viver portando espadas de múltiplos gumes, carregando serpentes de humor variável, eis nossa condição. Eis a única fuga impossível.
Viver é perigoso. Tudo se resume aqui, nesta construção genial de três palavras. Talvez não. Talvez seja necessário acrescentar uma nota a música: viver é muito perigoso. Desejo o bem, e o desejo com toda força dos gigantes, com toda astúcia dos sábios, com toda coragem dos heróis que residem no solo mais profundo do meu ser.
Ironia das ironias: precisamente ao desejar o bem é que alimento aquela matilha carnívora que insiste em transitar pela selva medonha e labiríntica que sou. Ao “querer o bem com demais força, de incerto jeito, pode já estar sendo se querendo o mal, por principiar.”
Muito cuidado. Tudo é e não é.
Viver é perigoso. Tudo se resume aqui, nesta construção genial de três palavras. Talvez não. Talvez seja necessário acrescentar uma nota a música: viver é muito perigoso. Desejo o bem, e o desejo com toda força dos gigantes, com toda astúcia dos sábios, com toda coragem dos heróis que residem no solo mais profundo do meu ser.
Ironia das ironias: precisamente ao desejar o bem é que alimento aquela matilha carnívora que insiste em transitar pela selva medonha e labiríntica que sou. Ao “querer o bem com demais força, de incerto jeito, pode já estar sendo se querendo o mal, por principiar.”
Muito cuidado. Tudo é e não é.
“Que o que gasta, vai gastando o diabo dentro da gente, aos pouquinhos, é o razoável sofrer. E a alegria de amor − compadre meu Quelemém diz. Família. Deveras? É, e não é. O senhor ache e não ache. Tudo é e não é...”
Guimarães Rosa (Grande Sertão: Veredas)
Guimarães Rosa (Grande Sertão: Veredas)
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5 comentários:
Sim, viver é muito perigoso, e inevitavelmente (e tragicamente) bom.
O bem que desejamos, esse não fazemos.
Seu texto lembrou-me a máxima: prudência (atitude interior) como as serpentes e simplicidade (atitude exterior) como as pombas, em tudo.
Bjão,
Além de ser perigoso, viver não é opção, mas uma prisão compulsória imposta pelo divino ou quem quer que tenha concebido tudo isso. Dependerá da visão de cada um.
Será que se eu ficar quietinho no meu cantinho, escapo?
O Schopenhauer que estava certo em dizer que tudo neste mundo é ilusão. Sem essa noção da nossa condição, é impossível viver.
Meus aplausos às citações roseanas!
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