A estreiteza da porta não comporta rebanhos. O Bom Pastor se dedica a pastorear ovelhas, especialmente aquelas eternas moribundas, alojamentos de uma dor que não se cansa de doer. Dedica-se a ovelhas e não a rebanhos.
Do outro lado da larga porteira há apenas um manancial de ilusões. Porém as ovelhas ainda não se enxergaram ovelhas, não enxergaram que seus pés, embora pouco hábeis, embora trepidantes, são seus. Seus. Podem desistir da rota traçada por não sei que poder demônico. Podem cuspir nela e tomar um rumo in-certo.
“Dizer – ai de nós! – que nos entretemos e que se entretêm as multidões com tudo, exceto com aquilo que importa! Que as arrastam a desperdiçar a vida no palco da vida (...) Que as conduzem em rebanhos, enganando-as ao invés de as dispersar, de isolar cada indivíduo, para que sozinho se consagre a atingir o fim supremo. O único que vale que se viva e que tem com que alimentar toda uma vida eterna. Perante essa miséria eu bem poderia chorar uma eternidade inteira!” (Sören Kierkegaard, O Desespero Humano)Ah hienas pérfidas! Hienas travestidas de reis da selva. Enganam multidões com seus doces embustes, com sua voz que impõe respeito, com sua juba falaz que simula sabedoria.
Hienas asquerosas que jogam milhões de ovelhas nas ruas, impondo uma marcha por um Jesus-ídolo. Marcharemos para Jesus quando marcharmos pelos nossos irmãozinhos que perecem nos cárceres fétidos da dita civilização. Marcharemos para Jesus quando marcharmos pelas criancinhas que vendem sua infância doce nos sinais de trânsito por uma moedinha de cinqüenta centavos. Marcharemos para Jesus quando deixarmos de marchar para gastar mais tempo servindo com amor todas as ovelhinhas que são pisoteadas pelo rebanho, avançando sedento rumo ao manancial ilusório.
Marcharemos para Jesus, mas antes precisamos deixar o rebanho.
“Para desgarrar muitos do rebanho, foi para isso que vim.” Assim falou um tal de Zaratustra.
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10 comentários:
Ai! isso doi!
Assino embaixo.
Passei pelo massacre, quase morro sufocada pelo cheiro de enxofre, mas passei...Hoje respiro o ar da Graça!
Um abraço.
Quando vamos entender, que marchar pra Jesus, é tão somente amar como Ele amou? Sem distinções, acepções, incondicionalmente... Enxergá-lo e recebê-lo através dos seus pequeninos!
Adoraria receber sua visita com mais frequência...beijão.
Cuidado! Kierdegaard, Nietzsche, deixar o rebanho... xiii! Deixa os caras da reforma lerem isso, pro cê vê.
Gostei muito daquela frase do Nit ali no lado.
Bjo, Alysson!
Querido Alysson,
Sou do Caminho da Graça - Estação BH. Recebi seu comentário/recado e, como não tenho seu email, decidi escrever um comentário pra vc.
A Estação BH se reune aos domingos às 19h na Av. José Cleto, 575 B. Palmares no Buffet Gourmet; e as quintas às 19:30h no mesmo local para um encontro chamado Com-Vivência, onde é realizado um bate-papo com troca de opiniões e reflexões a respeito do Evangelho.
No mais, visite nosso Blog: www.caminhobh.com. Nossos email´s estão lá tb.
um carinhoso abraço
Riva Moutinho
O caminho da individuação é a proposta de Jesus. É o caminho da sanidade, do amor ao próximo e a si, que não se permite entrar em "esquemas" da roda gigante da religião (aliás roda gigante tão alta quanto um rodapé).
Bjão,
Alysson, "camarada" estou aprendendo a gostar de você. Sem esforço nenhum. Ainda mais lendo Kierkegaard...
Um Kierkegaard e Zaratusta( codinome do filósofo. rsrsr)
Muito cult teu texto menino.
Tem um referencial filosófico explícito e uma crítica às ilusões que arrebatam multidões, os rebanhos.
Taí, gostei.
Voltarei por aqui.
Bj.
Ainda há quem diga que rebanho é coisa assaz necessária para trazer pessoas a Jesus. Esquecem, porém, que Jesus já está nas pessoas, falta, aos arrebanhados é claro, irem às pessoas encontrarem Jesus. Ele está no cárcere, no hospital, na rua, enfim, em quaisquer margens sociais que são sinônimos de injustiça. Depois vai ser tarde dizer "Senhor, Senhor" (...)
Muito bom, Alysson. Fico sem entender tudo. Li pouco de Nietsche, por exemplo. Mas entendo que se não marchamos para a libertação, contra toda forma de opressão, marchamos em vão. Vivemos num eterno círculo umbilical do "eu estou aqui, Deus, faz o que te peço por mim...", e não conseguimos enxergar o outro, não conseguimos ver no outro o Deus que o criou. Vejo na luta política a possibilidade de se entrar numa outra esfera de compreensão de Deus: Deus agindo pelo outro, e sendo pelo outro é por mim também, sendo por nós é por Deus também.
Um abraço,
Mayalu
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