O grito de Jó. Cale-se Jó, assuma seus pecados. O velho insistia na agonia de um grito incompreendido. Antígona e seus gritos: o pai, o irmão. Não seja tola, Antígona, deixe com os vermes a tarefa de compreender os infelizes. O grito do poeta, aquele que ninguém ouviu no teatro:
Entretanto você caminha
melancólico e vertical.
Você é a palmeira, você é o grito
que ninguém ouviu no teatro
e as luzes se apagam.
(Carlos Drummond de Andrade, Não se mate)
Gritamos. E nosso grito viaja em busca de compreensão, de uma centelha que seja. Os outros vivem, e só vivem enquanto vivem em nós.
Cada dia que passo incorporo mais essa verdade, de
que eles não vivem senão em nós
e por isso vivem tão pouco; tão intervalado, tão débil.
Fora de nós é que talvez deixaram de viver, para o que se chama tempo
E essa eternidade negativa não nos desola.
Pouco e mal que eles vivam, é vida não obstante.
(Carlos Drummond de Andrade, Convívio)
E nós, a recíproca é tragicamente verdadeira, nós vivemos apenas enquanto vivemos nos outros.
E talvez existamos somente neles, que são omissos
e nossa existência,
apenas uma forma impura de silêncio, que preferiram.
(Carlos Drummond de Andrade, Convívio)
Ah! A omissão dos outros, o grito incompreendido de Jó, de Antígona, do poeta. Bem-aventurados estes seres infelizes, estes que gritam e são agraciados apenas com o eco de sua voz frágil. Haverá, em algum lugar, em algum canto inexplorado do Universo, certamente haverá uma audição acolhedora.
Os que gritam e são ouvidos. Estes que gritam em blogs, que gritam fazendo ginástica com o corpo, como a Jade Barbosa (sim, caí no laço global, virei fã da muchacha). Que seja dito: estes já receberam sua recompensa.
*****
Deixo registrado meus sentimentos aos familiares das vítimas envolvidas na tragédia anunciada que se abateu sobre o Brasil ontem (17/07).
Encontrei no blog do Sérgio Pavarini um grito do Quintana, gaúcho de Porto Alegre. Fica como homenagem:
A nossa vida nunca chega ao fim.
Isto é, nunca termina no fim. É como se alguém estivesse lendo um romance e achasse o enredo enfadonho e, interrompendo, com um bocejo, a leitura, fechasse o livro e o guardasse na estante. E deixasse o herói, os comparsas, as ações, os gestos, tudo ali, esperando, esperando...
Como naquele jogo a que chamavam brincar de estátua.
Como num filme que parou de súbito.
* * * *
Entretanto você caminha
melancólico e vertical.
Você é a palmeira, você é o grito
que ninguém ouviu no teatro
e as luzes se apagam.
(Carlos Drummond de Andrade, Não se mate)
Gritamos. E nosso grito viaja em busca de compreensão, de uma centelha que seja. Os outros vivem, e só vivem enquanto vivem em nós.
Cada dia que passo incorporo mais essa verdade, de
que eles não vivem senão em nós
e por isso vivem tão pouco; tão intervalado, tão débil.
Fora de nós é que talvez deixaram de viver, para o que se chama tempo
E essa eternidade negativa não nos desola.
Pouco e mal que eles vivam, é vida não obstante.
(Carlos Drummond de Andrade, Convívio)
E nós, a recíproca é tragicamente verdadeira, nós vivemos apenas enquanto vivemos nos outros.
E talvez existamos somente neles, que são omissos
e nossa existência,
apenas uma forma impura de silêncio, que preferiram.
(Carlos Drummond de Andrade, Convívio)
Ah! A omissão dos outros, o grito incompreendido de Jó, de Antígona, do poeta. Bem-aventurados estes seres infelizes, estes que gritam e são agraciados apenas com o eco de sua voz frágil. Haverá, em algum lugar, em algum canto inexplorado do Universo, certamente haverá uma audição acolhedora.
Os que gritam e são ouvidos. Estes que gritam em blogs, que gritam fazendo ginástica com o corpo, como a Jade Barbosa (sim, caí no laço global, virei fã da muchacha). Que seja dito: estes já receberam sua recompensa.
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Deixo registrado meus sentimentos aos familiares das vítimas envolvidas na tragédia anunciada que se abateu sobre o Brasil ontem (17/07).
Encontrei no blog do Sérgio Pavarini um grito do Quintana, gaúcho de Porto Alegre. Fica como homenagem:
A nossa vida nunca chega ao fim.
Isto é, nunca termina no fim. É como se alguém estivesse lendo um romance e achasse o enredo enfadonho e, interrompendo, com um bocejo, a leitura, fechasse o livro e o guardasse na estante. E deixasse o herói, os comparsas, as ações, os gestos, tudo ali, esperando, esperando...
Como naquele jogo a que chamavam brincar de estátua.
Como num filme que parou de súbito.
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3 comentários:
Acho que o primeiro impulso do sofrimento e da angústia é o pessimisto, que se culpa pela pouca esperança. Mas, o segundo fôlego de quem sofre, daqueles que encaram a dor e compreendem que quem vive, se dói e vive de superar a dor e de se superar, é a afimação da vida. Não a fuga dela.
A morte choca. Entretanto, não consigo parar de pensar nessas máquinas modernas ou pós-modernas, nas quais depositamos a vida e confiamos a nossa eternidade. No dia do acidente, um pastor me ligou e pensei que era para comentar o ocorrido, mas o assunto dele não tinha nada a ver e fiquei irritado. Calmamente ele me disse: "Antes do século XX ninguém morreu em acidente aéreo".
Alysson,
Grato por sua visita e carinho.
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