Meu berço já continha um exemplar ilustrado da Bíblia. Cresci ouvindo sermões que ofereciam salvação aos corajosos capazes de levantar as mãos indicando sua decisão ao lado de Cristo. Confesso que minha timidez incorrigível sempre me impediu de realizar o tal ato, o que me custou o inferno. Não o escatológico, é claro. Não ainda. Vivia o inferno de não ter a certeza de minha salvação, o inferno de temer os horrores do inferno medieval que me apresentavam na Escola Bíblica.
Deus ouvia minhas orações silenciosas clamando por salvação? Fiz milhares delas, talvez para compensar minha covardia. Nunca tinha certeza se a última fora suficiente para escrever meu nome completo no Livro da Vida. Pelo sim, pelo não, fechava os olhos e lascava outra.
As coisas não mudaram muito. Continuo ouvindo os tais sermões e minha timidez não cessa de empurrar-me para o fogo eterno.
Pensando com meus botões, o que aconteceria se convidássemos Paulo ou Lutero para um destes nossos cultos evangelísticos? Meus botões dizem que eles sairiam escandalizados. Para alguma coisa serve a timidez.
Dou meu chute: essa idéia de levantar as mãos declarando publicamente sua fé em Cristo deve ter nascido da cabecinha pragmática dos norte-americanos. A salvação pela graça por meio da fé (Ef. 2:8) converte-se em salvação pela fé. O ato de fé, exteriorizado pelo corajoso levantar das mãos, torna-se a causa de uma salvação que em última instância é conquistada por obra humana. Elimine todas as suas dúvidas, creia nisto e naquilo, levante suas mãos e corra para o abraço.
Deixo a conclusão com Paul Tillich:
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(1) TILLICH, Paul. Perspectivas da Teologia Protestante nos séculos XIX e XX. Ed. ASTE.
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Deus ouvia minhas orações silenciosas clamando por salvação? Fiz milhares delas, talvez para compensar minha covardia. Nunca tinha certeza se a última fora suficiente para escrever meu nome completo no Livro da Vida. Pelo sim, pelo não, fechava os olhos e lascava outra.
As coisas não mudaram muito. Continuo ouvindo os tais sermões e minha timidez não cessa de empurrar-me para o fogo eterno.
Pensando com meus botões, o que aconteceria se convidássemos Paulo ou Lutero para um destes nossos cultos evangelísticos? Meus botões dizem que eles sairiam escandalizados. Para alguma coisa serve a timidez.
Dou meu chute: essa idéia de levantar as mãos declarando publicamente sua fé em Cristo deve ter nascido da cabecinha pragmática dos norte-americanos. A salvação pela graça por meio da fé (Ef. 2:8) converte-se em salvação pela fé. O ato de fé, exteriorizado pelo corajoso levantar das mãos, torna-se a causa de uma salvação que em última instância é conquistada por obra humana. Elimine todas as suas dúvidas, creia nisto e naquilo, levante suas mãos e corra para o abraço.
Deixo a conclusão com Paul Tillich:
“As grandes dificuldades do protestantismo vieram dessa confusão básica como se Lutero tivesse dito que a aceitação intelectual das doutrinas fosse o poder salvador dos homens. Para Lutero a fé resulta do Espírito divino, e o Espírito divino e a graça são a mesma coisa. Deus nos concede a graça dando-nos o Espírito. É o Espírito que nos leva a aceitar a mensagem do perdão dos nossos pecados. Contraria absolutamente a Reforma dizer-se que Deus só perdoa os que primeiramente acreditam em Deus, em Cristo e sua expiação, além das doutrinas e do catecismo de Lutero. Essa idéia é anti-divina e contraria a Reforma. A primeira coisa é abrir-se para a graça divina e não tentar produzi-la. A pior maneira de procurar produzi-la, pelo menos hoje, é tentar aceitar doutrinas, crer em coisas que nos parecem incríveis, forçando-as sobre nós, na medida em que procuramos reprimir nossa dúvida honesta. Essa é a pior forma de deformação.” (1)
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(1) TILLICH, Paul. Perspectivas da Teologia Protestante nos séculos XIX e XX. Ed. ASTE.
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12 comentários:
Perdoe-me a falta de exatidão na informação, mas foi exatamente um americano, cujo nome escapa-me, que inventou essa coisa de "levantar as mãos". Na verdade esse cara inventou um verdadeiro "avivamento" norte americano. Existia uma espécie de banco da reflexão para os não convertidos as pérolas do cristinismo protestante norte americano. Isso pelos idos do século XVIII.
Dái, para os missionários americanos trazerem isso ao Brasil foi um pulo.
Enfim, mais uma modinha que não é de viola.
Bjão,
Vando
Alysson, meu estimado amigo. Sobre a teologia nossa de cada dia... Diria: estudei, ainda estudo, vou continuar estudando o que falaram acerca do assunto. Porém, agora, não sei ainda a razão, resolvi vivê-la. Isto, tem feito um estrago na minha alma.
“Todo cristão que aceita cegamente as opiniões da maioria e segue, por medo ou timidez, o caminho da conveniência ou da aprovação social, torna-se mentalmente e espiritualmente num escravo”. Martin Luther King Jr.
Vando,
Como dizia o velho e bom Chapolin Colorado (ou Polegarzinho para os mais íntimos): suspeitei desde o princípio.
Meu caro Francisco,
Viver é um outra história, não é mesmo?
Abração
Minha morte já tinha sido anunciada, quando Deus me devolveu com vida e curada, aos meus pais. Eu teria crescido num lar cristão, se eles tivessem perseverado, mas não foi assim. Precisei estar no "fundo do poço", para tomar a atitude de levantar minha mão. Fiz isso como quem anseia ser resgatado e fui. Claro que o coração se converteu antes do gesto, mas foi depois do gesto, da oração que recebi, que voltei pro meu lugar com a sensação de estar vivendo o primeiro dia da minha vida.
beijo
Janete,
Uma experiência pessoal é sempre mais forte e reveladora que qualquer doutrina. Suas poucas linhas indicam a atuação sempre graciosa de Deus na vida de seus amados rebentos. Ainda que estejamos no "fundo do poço" o Abba não deixa de nos estender seus braços de socorro.
Quando questiono aqui o ato de "levantar as mãos" estou questionando um ato objetivo, não julgando esta ou aquela experiência pessoal (com que autoridade, aliás?)
Ademais, não questiono o ato em si, mas o que ele pode eventualmente significar. Ele pode significar uma opção por fazer parte de uma comunidade cristã, e neste caso não nego sua importância e até nobreza. Afinal, trata-se de um ato exterior de obediência cuja relevância é inegável para o amadurecimento do cristão, chamado continuamente a viver na comunhão dos santos.
O problema é quando o ato significa um esforço humano para alcançar a salvação. Lembre-se que somos salvos pela graça, um dom divino. A fé é o MEIO pelo qual a graça ingressa na história humana. Nunca a CAUSA que libera a graça.
Ao que tudo indica (como você mesma diz: "claro que o coração se converteu antes do gesto"), no seu caso o ato foi antes um ato externo de obediência, um decidir participar da comunidade cristã, fascinada que estava com o amor incompreensível de Deus. Um ato nobre.
Peço perdão se não fiz esta diferenciação no texto. E é igualmente uma pena que os pastores também não a façam no púlpito, o que dá lugar a muita confusão.
Espero ter esclarescido.
Beijão.
Digo: esclarecido.
Alysson,
O método ianque foi eficiente o suficiente para transformar o terceiro mundo em um reduto de pessoas cujas mãos são levantáveis.
Aquela pregação avivalista com nomes vultuosos no século dezoito, como Jonathan Edwards, e dezenove, como Dwight Moody e Charles Finney, fomentou uma religião civil norte-americana que foi literalmente transportada para cá.
É lamentável que a gente prefira repetir um discurso a ressignificá-lo conforme nossa própria realidade. Tal conveniência não nos permite, pelo menos por enquanto, vislumbrar uma era protestante brasileira.
Afinal, as teologias arraigadas nas igrejas populares insistem em dar crédito eterno aos patriarcas estado-unidenses, absorvendo suas influências por meio das organizações para-eclesiásticas.
Levantaremos nossas mãos, salvas raríssimas exceções como é o seu caso, triunfando o discurso vencedor dos pragmáticos religiosos do norte do continente. Ai de quem não o fizer, pois gente como o mr. Bush existe para cuidar destes!
Xii! Para entrar para a Igreja Protestante, embora já crendo no evangelho, levantei as mãos ao apelo do Eneas Tonini e aceitei Jesus em meu coração. Sory!
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