A lufada divinamente compreensiva da literatura arquiteta argutamente a anarquia; arrasta os párias até o centro do palco, até o cume da tragicômica travessia humana. Seus gritos são finalmente libertos das amarras do silêncio forçado, sua voz é extravasada pela língua divina da poesia.
Enquanto a história distribui as batatas entre os vencedores, a poesia abuda o solo dos desvalidos. Enquanto aqueles se fartam de tubérculos, estes acolhem em casa a Poesia Encarnada.
As letras transtornam o mundo, insultam os poderosos, chicoteiam as hierarquias. No literato Jesus de Nazaré o amor é protagonizado por um desprezado Samaritano. Em Dostoiévski uma piedosa puta revela ao homicida o facho da redentora luz. Machado de Assis concede fraternalmente sua voz a um defunto enquanto Goethe torna pública as cartas atordoadas de um suicida. Thomas Hardy narra a história de um obscuro Judas e William Faulkner acompanha a travessia de uma adolescente carregando no ventre o filho da vergonha.
O Sermão do Monte é menos um sermão que uma obra literária. Jesus, o literato desprovido de pena, canta ali a imortalizada ode aos rejeitados. Bem-aventurados os samaritanos, os defuntos, os suicidas, os obscuros, bem-aventuradas as mães solteiras e as putas, porque deles, porque delas é o Reino da Poesia.
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Enquanto a história distribui as batatas entre os vencedores, a poesia abuda o solo dos desvalidos. Enquanto aqueles se fartam de tubérculos, estes acolhem em casa a Poesia Encarnada.
As letras transtornam o mundo, insultam os poderosos, chicoteiam as hierarquias. No literato Jesus de Nazaré o amor é protagonizado por um desprezado Samaritano. Em Dostoiévski uma piedosa puta revela ao homicida o facho da redentora luz. Machado de Assis concede fraternalmente sua voz a um defunto enquanto Goethe torna pública as cartas atordoadas de um suicida. Thomas Hardy narra a história de um obscuro Judas e William Faulkner acompanha a travessia de uma adolescente carregando no ventre o filho da vergonha.
O Sermão do Monte é menos um sermão que uma obra literária. Jesus, o literato desprovido de pena, canta ali a imortalizada ode aos rejeitados. Bem-aventurados os samaritanos, os defuntos, os suicidas, os obscuros, bem-aventuradas as mães solteiras e as putas, porque deles, porque delas é o Reino da Poesia.
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3 comentários:
Meu amigo, sinto ter alguma participaçãozinha nesse seu pária e poético modo de pensar a poesia. Em última análise, o Reino de Deus é o reino da poesia, também. Muito bom!
Caro Alysson,
se também não estivesse nessa tribuna, confesso que também teria dificuldades em acietar meus co-párias.
O Evangelho é a única alternativa ao mundo do sucesso.
Abrçs fraternos,
Roger
Amigo,
Falar de poesia-com-letra-maiúscula é falar de uma literatura que inquieta e provoca nossas vidas. Falar de religião e, por conseguinte, de fé é falar de uma caixa-preta dentro de nós, onde nossos desejos profundos sobrevivem.
Teologia e Literatura são face da mesma moeda. Falam da gente. Confunde nossas vidas. Cada vez que separo uma coisa da outra, sinto-me com uma eterna culpa, porque ambas são uma.
O seu texto é um testemunho vivo, disso, do quanto, por exemplo, Jesus é tema literário e teológico. O último período de sua tão emocionante postagem leva-nos para dentro desta realidade. Sua opção jurídico-política preferencialmente pelos pobres dá um tom único para a leitura, porque ressuscita o profetismo dos sermões de Antonio Vieira à teologia da libertação de Leonardo Boff. O de lá dizia corajosamente (cf. Sermão do Bom Ladrão) que ladrão mesmo eram os grandes que roubavam do povo. O de cá disse em todo a sua primeira contribuição teológica que Deus sempre optou pelos menos favorecidos. Aleluia porque o Reino da Poesia sempre foi uma resistência presente de Jesus a blogueiros como você!
Aquele abraço.
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