sexta-feira, março 14, 2008

Convincente poesia

Jorge Luis Borges falando em conferência transcrita em "Esse Ofício do Verso" (Cia das Letras)

No meu entender, qualquer coisa sugerida é bem mais eficaz do que qualquer coisa apregoada. Talvez a mente humana tenha uma tendência a negar declarações. Lembrem o que diz Emerson: argumentos não convencem ninguém. Não convencem ninguém porque são apresentados como argumentos. E então os contemplamos, e refletimos sobre eles, e os ponderamos, e acabamos decidindo contra eles.

Mas quando algo é simplesmente dito ou - melhor ainda - insinuado, há uma espécie de hospitalidade em nossa imaginação. Estamos dispostos a aceitá-lo. Lembro ter lido, há uns trinta anos, as obras de Martin Buber - que considerei poemas extraordinários. Então, quando fui para Buenos Aires, abri o livro de um antigo amigo meu, Dujovne, e descobri em suas páginas, para grande espanto, que Martin Buber era um filósofo e que toda sua filosofia estava contida nos livros que eu lera como poesia. Talvez eu tenha aceito aqueles livros porque chegaram a mim pela poesia, pela sugestão, pela música da poesia, não como argumentos. Creio que em alguma passagem de Walt Whitman a mesma idéia pode ser encontrada: a idéia de razões serem inconvincentes. Creio que ele diz em alguma parte achar o ar noturno, as poucas estrelas graúdas, bem mais convincentes que meros argumentos.


* * * *

6 comentários:

O Fantasma de Chet Baker disse...

Oi Allyson,
adorei seu blog. Os textos são ótimos! Se vc quiser, mas só se quiser, dá um pulinho no meu, tá?
mil luas pra vc

Anônimo disse...

Esse texto é mesmo ótimo... apresenta pontos (sugestões e argumentos) interessantes. Naturalmente os últimos precisam ser ponderados!

Felipe Fanuel disse...

Cara,

Você diz que está mais para a Literatura do que para a Teologia. Qual é a diferença? Colocaria palavras de Borges na boca de filósofos-teólogos como Ralph W. Emerson (ele já o faz) — no primeiro parágrafo — e Gianni Vattimo — no segundo.

A filosofia vive de perguntar; a teologia, de responder; a literatura, de perguntar respondendo e responder perguntando. Entrecruzam perguntas e respostas existenciais que nos fazem alcançar nossa maior imanência, que é, no fundo (para lembrar de Nietzsche, nossa própria transcendência. Tá lá guardadinha, esperando o momento de florescer, como disse, na padaria ou na igreja.

Abraço forte.

Bárbara disse...

No fim das contas, eu acho que é para isso mesmo que existe a música, a poesia e as artes visuais: para falar de verdades denotativas, nuas e cruas; porém, de modo conotativamente criativo e muito mais interessante. Se a vida fosse feita somente de argumentos, ela seria intragável. Eu tenho aqui nos meus arquivos um ótimo texto do CS Lewis sobre isso. Vou continuar procurando onde coloquei, but I still haven't found what I'm looking for...

Bjs

Felipe Fanuel disse...

Caraca!

Esse blog está cada dia mais aumentando seu nível. Márcia Frazão por aqui! LOL

Meus aplausos ao seu brilhante trabalho, Alysson. Sou um incansável leitor-admirador de tudo que você escreve. Parabéns!

Alice disse...

Muito bom texto, e verdadeiro . Eu tb concordo que quando apregoamos algo usamos de informação ditatorial e isso , involuntariamente causa reações adversas, por ninguem gosta de ser dominado, mas qdo se usam de insinuações, a mente humana realmente recebe sem reservas , ou seja, há que se ter inteligencia para comunicar-se e influenciar, caso contrário gera-se conflito.
Abraços para ti