O casal "protestante provinciano", "batista nato" do "Palmeiras Selvagens" de Faulkner, distribui entre os vizinhos, diariamente, sua parcela do dever cristão.
William Faulkner em Palmeiras Selvagens
E quando ele (o médico) chegou em casa ao meio-dia, ela já tinha preparado o gumbo, uma quantidade enorme, o suficiente para uma dúzia de pessoas, com a turva diligência samaritana das mulheres boas, como se tivesse um prazer turvo e vingativo e masoquista no fato de que a obra samaritana deveria ser executada apesar dos restos que ficariam invencíveis e inesgotáveis no fogão, enquanto os dias se acumulavam e passavam, para ser esquentada e requentada de novo até ser consumida por duas pessoas que nem gostavam de sopa (...) Ele próprio levou a vasilha - um homem baixo, gorducho e desarrumado, as roupas íntimas não muito limpas, deslizando desajeitado pela sebe de espirradeiras com a vasilha coberta por um ainda vincado (e ainda nem lavado, era novo) guardanapo de linho, dando um ar de acanhada bondade até no símbolo do inflexível ato cristão que desempenhava, não com sinceridade ou piedade, mas sim por dever.
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2 comentários:
Passei pra te ler, me saciar e te deixar um grande abraço !!
O paradigma da salvação pelas obras nos leva a isso, ainda que não creiamos nele -- como se faz em nosso discurso protestante. Dele decorre o enfadonho dever cristão.
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