Quando a comédia humana se torna patética e nossa perspectiva reduzida às formas temporais; quando descemos a vala da consciência contraída e nos vemos subjugados por nossas próprias criaturas; quando somos ameaçados pelos chifres implacáveis do Minotauro, monstro parido pelo egoísmo do rei Minos, que pode hoje ser Bush, que foi a seu tempo Herodes, então precisamos de um ventre vazio como o abismo primordial (Gn. 1:2), preparado para acolher a Redenção.
O Natal é o nascimento virginal do herói, o mistério da dissolução do Infinito no Finito, o primeiro ato da extraordinária peça intitulada "o auto-esvaziamento de Deus", a kenosis da teologia paulina (Fl. 2:7). A virgem que dá a luz ao herói redentor não é, todavia, propriedade exclusiva da tradição cristã. Entre os Tunja e Sogamoso, povos da Colômbia, conta-se que o Sol fecundou uma virgem e após nove meses a mulher pariu uma esmeralda que depois de acalentada em seus seios transformou-se em criatura humana, recebendo o nome de Goranchacho, o Filho do Sol. A mesma história é contada, com pequenas variações, em vários outros mitos de diversas tradições religiosas.
O italiano Gianni Vattimo, interpretando a encarnação de Deus em Cristo, advoga a vocação de religião universal do cristianismo, baseada na "assimilação". Deste modo, tal vocação "não se identifica com a pretensão de afirmar a única verdade verídica em oposição aos erros dos deuses falsos e mentirosos, mas se apresenta como capacidade de "assimilação" (...) que constitui o próprio significado da doutrina central da encarnação. (...) É justamente porque o Deus cristão se encarna em Jesus que se torna possível pensar Deus também sob a forma de um outro ser natural, como acontece em muitas mitologias religiosas não-cristãs. Os símbolos naturais e históricos (...) podem, realmente, valer como símbolos de Deus, porque este Deus se fez homem em Jesus, mostrando, portanto, o seu parentesco com o finito e com a natureza, ou ainda, como diríamos nós, inaugurando, assim, a dissolução da sua transcendência."
O Natal deve ser também, e fundamentalmente, um momento de celebrar a esperança: convoca-nos a esperar a volta de Cristo - a nova volta de Cristo - Ele que já voltou no Oriente em Gandhi, no Ocidente em Luther King, na África em Mandela, no Brasil em Padre Josimo. Mas sobretudo, o Natal é a esperança do novo nascimento - de Cristo nascendo em nós, experiência aberta a todos como possibilidade, e fundamental ao herói, aquele que "morreu como homem moderno; mas como homem eterno – aperfeiçoado, não específico e universal – renasceu." (Joseph Campbell)
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O Natal é o nascimento virginal do herói, o mistério da dissolução do Infinito no Finito, o primeiro ato da extraordinária peça intitulada "o auto-esvaziamento de Deus", a kenosis da teologia paulina (Fl. 2:7). A virgem que dá a luz ao herói redentor não é, todavia, propriedade exclusiva da tradição cristã. Entre os Tunja e Sogamoso, povos da Colômbia, conta-se que o Sol fecundou uma virgem e após nove meses a mulher pariu uma esmeralda que depois de acalentada em seus seios transformou-se em criatura humana, recebendo o nome de Goranchacho, o Filho do Sol. A mesma história é contada, com pequenas variações, em vários outros mitos de diversas tradições religiosas.
O italiano Gianni Vattimo, interpretando a encarnação de Deus em Cristo, advoga a vocação de religião universal do cristianismo, baseada na "assimilação". Deste modo, tal vocação "não se identifica com a pretensão de afirmar a única verdade verídica em oposição aos erros dos deuses falsos e mentirosos, mas se apresenta como capacidade de "assimilação" (...) que constitui o próprio significado da doutrina central da encarnação. (...) É justamente porque o Deus cristão se encarna em Jesus que se torna possível pensar Deus também sob a forma de um outro ser natural, como acontece em muitas mitologias religiosas não-cristãs. Os símbolos naturais e históricos (...) podem, realmente, valer como símbolos de Deus, porque este Deus se fez homem em Jesus, mostrando, portanto, o seu parentesco com o finito e com a natureza, ou ainda, como diríamos nós, inaugurando, assim, a dissolução da sua transcendência."
O Natal deve ser também, e fundamentalmente, um momento de celebrar a esperança: convoca-nos a esperar a volta de Cristo - a nova volta de Cristo - Ele que já voltou no Oriente em Gandhi, no Ocidente em Luther King, na África em Mandela, no Brasil em Padre Josimo. Mas sobretudo, o Natal é a esperança do novo nascimento - de Cristo nascendo em nós, experiência aberta a todos como possibilidade, e fundamental ao herói, aquele que "morreu como homem moderno; mas como homem eterno – aperfeiçoado, não específico e universal – renasceu." (Joseph Campbell)
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4 comentários:
Olá Alyssom...
Meu amigo, me desculpe, mas que conversa é essa no seu último parágrafo ? "Cristo voltou em Gandhi" ?
Um abraço,
Caro Eduardo,
Agradeço sua visita e comentário. Ao ler o texto com atenção tenho certeza que você entenderá o que quis dizer com aquela "conversa" de Cristo voltando em Gandhi e em outros mais - em Luther King talvez a dificuldade para aceitar seja menor. O Deus encarnado no Jesus histórico é o Deus que continua se encarnando. A volta de Cristo, no presente texto, não é interpretada da forma clássica, como o Prelúdio do Apocalipse, trata-se apenas - e isso já é muito - de uma nova encarnação do Verbo, de Deus mais uma vez dissolvendo-se e mostrando seu profundo interesse no drama humano, sua face apaixonada e redentora e humana, demasiada humana.
Um forte abraço.
Brilhante, Alysson!
Nossa esperança continua nascendo. Infelizmente os cristãos têm dificuldade com as tradições que acreditam em reencarnação. Mas o auto-esvaziamento revela uma encarnação continuada. Ainda hoje Deus se encarna no seu vazio. Não em pessoas como o presidente dos Estados Unidos, ou um grande líder espiritual, mas como gente simples, que transforma o mundo nas simples coisas (ver filme "A volta do Todo-Poderoso"). Aqui ele está (re)encarnado, ou, como queiram, ressuscitado.
Esse é o barato do Natal. Nasce morrendo. Quando Deus nasceu, ele morreu. Deixou de ser divino para ser humano. Os 22 dias de fome de D. Luiz Flávio Cappio em prol de outras pessoas revelam que Jesus continua entre nós, morrendo em prol de outros.
Esperança ele anda nos dando em outras tradições, sim. Ai de nós se Jesus fosse cristão! Ele está mais para as tradições indígenas, orientais e africanas que para a instituição cristianizada, que por ele tanto matou e tão pouco amou, como ele pediu para amar.
Viva o Natal plural! Cheio de esperança plurais. Para todos e todas. Toda língua, povos e raças. Celebraremos juntos na estrebaria. No lugar dos excluídos, dos marginalizados, ao lado do cheiro ruim do esterco. É lá que ele está nascendo, não na igreja.
Abraço fraterno.
(Cara, se puder, entra no msn pra gente bater um papo. Abs.)
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