"Quem sabe ainda veremos
o que o poetinha um dia sonhou mas não viu
pátria minha patriazinha, tadinha
lindo e triste Brasil"
o que o poetinha um dia sonhou mas não viu
pátria minha patriazinha, tadinha
lindo e triste Brasil"
Uma teologia radicalmente tupiniquim careceria de coerência histórica se não interpretasse a cruz como inimiga.
Não seria exagero nem mesmo romantismo cego afirmar que a cruz chegou para interromper o momento mais expressivo em termos de um viver sob a Graça da história destas latitudes. A historiografia oficial permite essa interpretação, quando interpreta o índio, em um primeiro momento, como a encarnação da inocência, um ser integrado em um mundo edênico. Também a tolera a atitude das ordens religiosas, mormente dos jesuítas, que vislumbravam nos índios a possibilidade viva da reconstrução da humanidade sob a base do cristianismo primitivo. É, aliás, a tentativa frustrada das missões.
A cruz, quando aporta por aqui, enxota a Graça, silencia a beleza, entristece os trópicos. Alguns índios deixam-se morrer nas mesmas redes que por muito tempo embalaram as delícias do ócio e do amor. Outros, os mais impressionáveis, se vendem e até se matam para gozar das mercadorias ordinárias produzidas pela tecnologia européia.
A vida entregue apenas ao sobejo viver não se coadunava com a ideologia da cruz ibérica, munida com a devida pólvora, que é para funcionar: a vida não pode ser gasta assim tão irresponsavelmente entre amores despudorados e brincadeiras delongadas. Há um projeto maior que deve ser considerado: um projeto celestial, etéreo.
Nestes trópicos, a cruz é a vilã da crônica de uma Graça assassinada.
* * * *
3 comentários:
Cara,
A graça nesta nossa pátria é sem graça. Não dá ânimo a nenhum ser vivente encarar a cruz sem a consciência da graça divina. Deve ser por isso que pregadores exaltados acham que filmes como Paixão de Cristo os fazem amar mais a Deus. Estão tão acostumados a um evangelho selvagem que amam a carnificina. Querem ver a violência de Deus na cruz, matando seu filho. Trocam aquele escancarado amor no calvário, onde — verdade seja dita — Deus é crucificado, por migalhas de um chicote do — que ironia! — soldado romano. Toda a luta teológica de Paulo, bem como todo o esforço narrativo das primeiras comunidades cristãs, vão para o ralo. (É como se Satanás — o imperador romano — vencesse) Lamento contigo: a graça foi assassinada!
Caro Alysson,
Lembro agora de um episódio relatado pelo Caio qnd de sua visita a uma tribo onde os índios criam na Graça, mas não faziam questão de serem "cristãos".
Paz,
Impressionante... Temos muitos índios em Ubatuba.Bêbados,tristes, uniformizados e organizados em times de futebol...E a Graça, tão desejada, se perdeu nas formalidades religosas.
Bendito Espírito,que nos permite, a seu tempo, ver todas as coisas encobertas.
Um abração pr'ocê, mano.
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