quarta-feira, julho 04, 2007

Cristo: o perigoso herege

Cristo não veio revogar lei alguma, e por um motivo muito simples: revogar um corpo de leis implicaria em estabelecer outro. Uma simples troca de fardos. A figura do fardo leve, em sua contradição inerente, indica com precisão a direção sempre libertadora da ação divina em Cristo.

Não era recomendável compilar novos ordenamentos. Eles tendem invariavelmente a usurpar a liberdade humana, e a um ponto tal que invertem a situação original: tornam-se senhores de homens escravizados. O homem que serve ao sábado – fé idólatra.

Cristo, o herege, o iconoclasta, apontava o erro: “o sábado foi feito por causa do homem e não o homem por causa do sábado” (Mc. 2:27). Que permaneça o sábado, desde que sejam exorcizados seus demônios, desde que assuma sua posição de servidor do homem.

Mas para que o sábado permaneça, e permaneça como servo, era necessário editar – ou renovar – uma lei, uma apenas: a do amor. O fardo leve. A lei que é curiosamente negação de toda lei, ou mais precisamente a negação ou força destruidora de qualquer conteúdo idólatra que inverta a função original da lei.

Não é difícil perceber que a Igreja assumiu e ainda assume alegremente e com zelo o papel de legislador que o Nazareno sempre rejeitou, e o faz orientada pelos seus já não tão escusos interesses seculares: revogando o que lhe desagrada, reforçando aquilo que coopera com seu cofre e cetro. Abafando a mensagem de libertação que ressoa dos Evangelhos. Ocultando Cristo, o perigoso herege.

* * * *

3 comentários:

Felipe Fanuel disse...

Cristo herege é a figura de um Cristo que se vivesse hoje seria crucificado pelo próprio papa. Afinal, ele não seria membro da "igreja verdadeira", ele fugiria destas pretensões. Não sendo muito demagogo, no máximo que ele faria seria pegar um bando de 12 coitados excluídos e iniciar tudo de novo. Bem dizia Eclesiastes: nada há de novo debaixo do céu. Salve a heresia crística!

Alysson Amorim disse...

É, Felipe. Certamente o Papa crucificaria Cristo. Aliás, me lembrou uma famosa passagem dos Irmãos Karamazov. Cristo desce ao mundo para uma nova visita e encontra o Grande Inquisidor, uma alusão a figura papal, que pretende, é claro, "passar o cerol" no Cristo, este avacalhador de consciências e inimigo dos projetos eclesiais.

Anônimo disse...

Pois é Alysson...
Quando as ovelhas marcadas vão perceber e abrir os olhos para isso?
Que Deus promova uma Revolução em nosso meio, pois senão é só 'remendo novo em veste velha'.
Abraço,