quinta-feira, dezembro 28, 2006

O cristianismo e as almofadas

Definitivamente, conforto e cristianismo não formam um bom par. Quando abrimos a porta para aquele senhor que bate educadamente, as almofadas pulam pela janela. Se elas retornam, estejamos certos, Cristo já está dobrando a esquina.

Tenho que reconhecer. Para mim, um jovem estudante cheio de aspirações, trata-se de uma constatação incômoda. Separei as preciosas férias para estudar os Evangelhos e os tais textos sagrados (santa ingratidão!) levaram minha almofada.

Ao contrário do que anunciam por aí, Cristo veio instaurar a crise radical, um estado de equilíbrio rompido donde emergem dúvidas e incertezas. Um estado que exige decisão inevitável: pró ou contra, tudo ou nada. Com Cristo as certezas são rompidas, o status quo questionado. Mas há sempre bons inventos para amordaçar questionadores.

A cruz foi uma invenção de judeus e romanos como tentativa de silenciar Cristo, que sem assumir nenhum cargo religioso ou político – sequer aspirou isto, colocava magistralmente em xeque a ordem estabelecida. Não adiantou. A ressurreição veio ao terceiro dia.

Mais engenhosas que a cruz só mesmo as invenções modernas. Um ótimo exemplo desta espécie é a erudição cristã, combatida com vigor por Kierkegaard em seu texto Morte aos comentaristas, de leitura indispensável. No entanto, não obstante todos os artifícios amordaçadores da modernidade, o Cristo vivo continua suspirando em nossos corações sua desconcertante e exigente mensagem revolucionária.

E não há solução: é preciso optar entre o cristianismo e as almofadas.

6 comentários:

Mariangela disse...

quando eu crescer, quero ser como vc!! xD

heuahsuehausa..

Bjo da tía kkkkk.. x*******

Mariangela disse...

quando eu crescer, quero ser como vc!! xD

heuahsuehausa..

Bjo da tía kkkkk.. x*******

Felipe Fanuel disse...

Olá Alysson,
Seu texto me fez lembrar da percepção que o teólogo Paul Tillich teve de interpretar o cristianismo a partir dos termos "substância católica" e "princípio protestante". Permita-me, grosso modo, encontrar na sua fala estes dois lados da fé cristã. De um lado, Cristo seria aquele princípio iconoclasta, quem provoca esta "crise radical". Do outro, as "almofadas", para cujo descanso humano servem como atenuadoras de qualquer conflito, seriam o impulso para o conforto que mantém o status quo social. Ao longo da história cristã, observamos tanto a presença de uma tensão quanto de uma acomodação inerentes. Eis o princípio protestante e a substância católica. Um é sinônimo de resistência profético-questionadora, causadora da des-ordem, no sentido de combater qualquer ameaça de idolatria, o outro significa que há uma universalidade na fé, a qual busca encontrar a unidade como resposta contra o caos. Se parecem antagônicas num primeiro momento, como você constata, estas instâncias podem ser muito sugestivas quando vistas como interdependentes. Afinal, o mesmo Cristo profeta, quem incomoda com seus discursos incisivos de crítica social, é também o bom pastor, quem apascenta suas ovelhas, preparando-lhes morada com muitas “almofadas”.
Um forte abraço.

Alysson Amorim disse...

Felipe. Seus comentários são sempre agregadores. Muito interessante esta sua interpretação. Se tiver algum texto (do próprio Paul Tillich, talvez) que aborde esta interdependência entre as instâncias que apresentei no texto, por favor, me indique. É assim que a gente vai crescendo...
Um grande abraço. Continue aparecendo aqui e deixando seus valiosos comentários.

Felipe Fanuel disse...

Bom, Alysson. Não sei se eu fui longe demais, mas eu creio que um bom texto para se ler sobre o assunto substância católica e princípio protestante em Paul Tillich se encontra no link seguinte: http://www.metodista.br/correlatio/num_01/a_dourl2.htm#texto1
A interdependência talvez seja um pouco do meu atrevimento interpretativo.
Fique na paz.

Alysson Amorim disse...

Opa!
Valeu Filipe. Vou ler o texto recomendado. Muito obrigado pela sugestão!
Abração!