Este natal me cansa. As decorações, sempre as mesmas. Nada que nos remeta ao aniversariante maior. Se ao menos fossem tropicais, tupiniquins. Se ao menos celebrassem o Cristo vivo com elementos de nossa tão rica cultura. Mas não: sempre os pinheiros cobertos de neve. E lá no céu estrelado, um senhor gordo, caucasiano, montado em renas, a distribuir tesouros terrenos.
Quem conhece, por aqui, o que sejam renas, o que seja neve, o que seja um caucasiano? Mas substituir pelo quê?
Imaginem só... Um pau-brasil decorando um shopping center e ao seu pé um mulatinho barbado a tirar fotos com crianças. Seria cômico. Um pouco trágico. Tragicômico qual aquelas lojas de grife que vendem, a preços salgados, camisas do Che Guevara. O muro caiu e o Che, quem diria, virou marca.
Esqueçam. Seja mantido o pinheiro, a neve, o caucasiano. É menos vergonhoso.
Estou cansado de um natal em que a vida não é celebrada, senão em seu aspecto material, um natal em que se troca, com Judas, a graça da vida eterna por um saco de metais. Um natal em que a esperança salvadora do Messias é brutalmente assassinada em muitos corações, geralmente de pessoas humildes, que se viram impossibilitadas de cobrir seus queridos de presentes.
Natal. Mas, afinal, quem nasceu? Um opressor? Um rei malévolo que aspira distribuir aos humildes dívidas impagáveis, noites de insônia, dor? E encher os bolsos de alguns outros – igualmente infelizes – de tesouros que inevitavelmente serão corroídos pela traça e ferrugem?
Não apenas. Nasceu também o libertador. Aquele que chama os humildes de felizes, porque herdarão o reino. Aquele que ensina aos ricos a não acumular tesouros aqui na terra, mas a se libertarem, acumulando tesouros celestes, imperecíveis.
Não se pode servir a dois senhores. Não se pode celebrar a Cristo e a Mamon. Então, no 25 de Dezembro, há dois natais. O natal de Cristo, o libertador. Mas também o natal de Mamon, o deus do dinheiro, o rei malévolo que distribui desgraças.
Estou cansado do natal de Mamon. Exausto da hipocrisia daqueles que no Natal e sempre cantam Cristo em melodias doces, mas servem incansavelmente a Mamon. Triste ao constatar que figuro, não raras vezes, neste grupo de fariseus.
Mas, esperançoso, deixo minha prece simples e sincera: que a cada natal eu veja o meu povo e a mim mesmo mais liberto, mais próximo de celebrar com sinceridade a Cristo. E junto a minha prece, para torná-la real, deixo minha vida.
7 comentários:
Opa! Interessante sua postagem. Só tem uma coisa: acho que o ato de dar presente no Natal é algo muito positivo. Eu também sou contra o abuso capitalista de enriquecer com certos símbolos — Papai Noel, árvore de Natal e outros apetrechos — que consideram os únicos representantes do Natal. Geralmente de origem teuto-nórdico-saxã, estes símbolos refletem dois fatores importantes da história do cristianismo, a saber, um aparentemente bom e outro ruim. Se, por um lado, são elementos de uma cultura esdrúxula — em outros tempos considerada pagã — que se impõem no lugar de nosso rico imaginário cultural, sendo, portanto, negativos para a cultura local, por outro, no entanto, a presença destes elementos revela o lado positivo do cristianismo ao conservar traços de outras culturas, absorvendo-os para dentro de suas tradições. O problema é que o Natal deixou de ser um momento onde se celebra a vida, como você também parece ter se preocupado em sua postagem. Isto é lamentável! Trocar presentes é um hábito saudável para se comemorar o fato de simplesmente estarmos respirando. Entretanto, a necessidade de gastar dinheiro com um item ou outro que certas lojas/marcas insitem em me dizer que devo adquirir para dar para alguém constitui a deturpação do ato de presentear. Este é o nosso crime: somos legitimadores de um sistema cruel. Por isso, não vemos problema em pagar caro em camisas com a estampa de um líder revolucionário. Afinal, ninguém precisa das idéias de um morto, só se quer a sua imagem-simbólica. Da mesma forma se pensaria Jesus no Natal: ele é apenas um morto com formato de bebê na manjedoura. Que pena! Com o Papai Noel é diferente? Não. Ele também está morto, a diferença é que ele nunca viveu, como Jesus e o Che, antes, eles são lendas, conseqüentemente, são mais manipuláveis pelo capitalismo.
Caro Felipe. Agradeço sua visita e principalmente seu ótimo comentário.
Apesar de não comentar este aspecto no artigo, também não condeno a troca de presentes no natal. Tal troca, enquanto representar calor humano, é muito bem-vinda.
Em relação àqueles elementos do natal, você disse:
"a presença destes elementos revela o lado positivo do cristianismo ao conservar traços de outras culturas, absorvendo-os para dentro de suas tradições."
Sim, mas não foram estes elementos totalmente desvirtuados??
Abs.
Com certeza, Alysson!
O problema do capitalismo é querer encontrar motivos para ganhar dinheiro. O arcabouço simbólico-festivo cristão constitui um prato cheio para os abutres do lucro. Eu suspeito de que seja este sistema que tem desvirtuado estes elementos.
Desculpe-me por reduzir tudo, grosseiramente, a uma explicação sociológica até um pouco ingênua, mas eu não vejo outra explicação. A explicação do problema é tão ridícula quanto o próprio problema.
Foi um prazer conhecer seu blog.
Um abraço.
To sem comentarios heuasheuasheae..
É verdade, as pessoas esquecem que estamos celebrando o nascimento de Jesus e isso acaba desvirtuando tudo.
Quando nos afastamos de Deus sempre acontece isso.
Bom, até mais sobrinho! xD Bjo ;*
Alysson,
Muito obrigado por inserir o link para meu blog. Fiz o mesmo com o seu.
Vai ser um prazer podermos trocar idéias.
Um forte abraço.
Também não gosto muito desse tipo de natal.. mas fazer o que.
Bom, sou aquela que estava fazendo a monografia sobre o Trier, e aliás, já concluí ela, e ficou bem interessante. Se quiseres ler, é só me dizer pra qual email.
bjos e feliz natal :)
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